A ficção televisiva continua a explorar o fascínio pelos dramas criminais, oferecendo narrativas que mergulham na complexidade da natureza humana. Atualmente, duas séries destacam-se por cativar o público com as suas tramas intensas e personagens moralmente ambíguas: a portuguesa “Matilha”, que retrata o submundo de Lisboa, e a produção norte-americana da HBO, “Task”, um drama policial negro e visceral. Ambas, apesar das suas origens distintas, partilham a capacidade de prender o espectador ao ecrã.
“Matilha”: O Regresso ao Submundo de Lisboa
A série portuguesa, criada por João Maia e protagonizada por Afonso Pimentel e Margarida Vila-Nova, centra-se na personagem de Matilha, um homem com um passado criminoso que tenta, com esforço, construir uma vida honesta ao lado da sua namorada, Mafalda. No entanto, o seu passado volta para o assombrar quando se vê envolvido num assalto a um hipermercado que corre terrivelmente mal.
A narrativa desenrola-se a um ritmo acelerado à medida que o casal se vê encurralado. Por um lado, os criminosos responsáveis pelo assalto exercem uma pressão crescente sobre Matilha para recuperar uma carga valiosa que desapareceu durante o caos. Por outro, a Polícia Judiciária, liderada pelo persistente inspetor Lacrau, aperta o cerco, investigando não só o roubo, mas também um homicídio ocorrido na zona ribeirinha. Com o tempo a esgotar-se, Matilha e Mafalda são forçados a tomar decisões desesperadas que colocam as suas vidas e o seu futuro em perigo, enquanto segredos e mentiras ameaçam destruir a relação que tentam preservar.
“Task”: O Drama Psicológico de um Agente do FBI
Do outro lado do Atlântico, “Task” emerge como um regresso em grande forma aos dramas de detetives hard-boiled, na linha de clássicos como True Detective. Criada por Brad Ingelsby (a mente por trás de Mare of Easttown), a série apresenta Mark Ruffalo no papel de Tom Brandis, um agente do FBI atormentado por uma tragédia pessoal devastadora: a sua esposa foi assassinada pelo seu filho adotivo, que sofre de problemas de saúde mental. Antigo padre católico, Brandis luta com uma crise de fé e recorre ao álcool para lidar com a dor, sentindo-se incapaz de encontrar o perdão que outrora pregava.
A sua vida profissional reflete o seu caos interior. Afastado do trabalho de campo, é chamado de volta à ação para liderar uma força-tarefa que investiga uma série de assaltos a depósitos de droga de um gangue de motociclistas. A série inova ao apresentar a história tanto da perspetiva da polícia como dos assaltantes — um grupo de homens da classe operária liderado por Robbie (Tom Pelphrey), que justifica os seus crimes com o desejo de proporcionar uma vida melhor à sua família. A tensão atinge o ponto de ebulição quando um dos assaltos resulta num tiroteio e no rapto involuntário do filho de um dos traficantes, transformando o caso numa busca por uma pessoa desaparecida e colocando os criminosos perante um dilema moral impossível.
Espelhos de uma Realidade Crua
Apesar das suas geografias e enredos distintos, “Matilha” e “Task” exploram temas universais. Ambas as séries mergulham na vida de homens que, embora não sejam inerentemente maus, são empurrados para situações extremas por circunstâncias ou pelo seu passado. Demonstram como a linha entre o certo e o errado pode ser ténue e como as escolhas feitas sob pressão podem ter consequências irreversíveis. Seja nas ruas de Lisboa ou numa zona operária da Pensilvânia, estas produções provam que o drama criminal continua a ser um veículo poderoso para explorar as falhas, as esperanças e as contradições do ser humano.